A UNS PÔS DEUS NA IGREJA...

Dois primos foram criados juntos; assim, aprenderam a engatinhar, correr, nadar e jogar bolas juntos. No entanto, à medida que cresciam, surgiam diferenças entre eles. Um deles se dedicou ao prazer de aprender; o outro primo, por sua vez, não considerava os livros uma boa companhia; como jamais se interessara  em adquirir conhecimento, abandonou os estudos bem cedo. Na vida adulta, o primeiro tornou-se conselheiro do rei, ao passo que o segundo empregou-se como remador do navio real.

Um dia, o rei e seus conselheiros embarcaram em uma viagem de excursão. Sentado na proa do barco, onde a brisa era mais agradável, discutiam negócios de Estado, enquanto a embarcação seguia seu rumo.

Quando viu o primo à vontade entre os membros da realeza,  o remador ficou muito abalado.

- Olhe só aquele preguiçoso, espichado na sombra, enquanto eu fico aqui queimando ossos ao sol - disse para si mesmo, continuando a remar.
- Por que ele tem o direito de se sentar lá, e eu não? Afinal, não somos ambos criaturas de Deus?

Cada vez mais furioso, começou a resmugar para um companheiro:

 - Observe aqueles palermas inúteis! Intitulam-se conselheiros, mas ficam à toa, jogando conversa fora. Por que nós precisamos trabalhar tanto? Isso não é justo! Eles deviam estar aqui, remando também.

Mais tarde, ancoraram para pernoitar. Após alimentar-se, todos cairam em sono profundo. No meio da

noite, o remador acordou sobressaltado com uma mão firme sacudindo-lhe os ombros. Era o próprio rei que o chamava.

 - Há um barulho esquisito vindo daquela direção - disse, apontando para a terra. - Por isso não consigo dormir. Por favor, vá até lá e descubra o que é.

Mas que depressa, o remador saltou do barco e correu até o alto do morro. poucos minutos depois, retornou com a informação: - não é nada, majestade.Trata-se de uma gata que acabou de parir uma ninhada de gatinhos barulhentos.

- Ah, sim? - interessou-se o rei. - Qual é a raça deles? 

O remador não tinha reparado nos filhotes. Por isso, correu novamente ao alto do morro: instantes depois, retornou esbaforido com a informação: 

- Siameses - disse.

- Quantos são?  - perguntou o soberano.

Como também não havia reparado nesse detalhe, repetiu o trajeto.

- Seis - respondeu. 

- Quantos machos e quantas fêmeas? - quis saber o rei.

Novamente, o remador correu até lá. Ao voltar, quase sem fôlego, respondeu:

- Três machos e três fêmeas!

- Está - disse o rei. - Agora venha comigo!

Sorrateiramente, dirigiram-se à proa do barco, onde dormia o primo do remador. Então o rei o acordou. dizendo: - Ouvi um estranho barulho vindo do alto daquele morro - apontou - Vá até lá e descubra o que é.

Então, o conselheiro desapareceu na escuridão. Pouco tempo depois, retornou com as devidas informações:

- É uma ninhada de gatinhos recém- nascidos, majestade - disse.

- De que raça? - perguntou o rei.

- Siameses - respondeu o conselheiro.

- Quantos são? 

- Seis.

- Três machos e três fêmeas. A mãe os pariu dentro de um barril, logo depois que chegamos. Os animais pertencem ao prefeito do vilarejo, que espera não ter incomodado sua majestade com a algazarra dos filhotes. Por isso, caso a corte necessite de um animal de estimação, ele o convida a escolher um deles.

Satisfeito com as informações, o soberano olhou para o remador e disse:

- Saiba que eu ouvi suas reclamações hoje de manhã. 

  Embora todos sejamos filhos de Deus, suas criaturas têm um trabalho a fazer; por isso, é importante que cada um cumpra seu papel da melhor maneira possível.

 Ora, o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser:  Porque não sou olho não sou do corpo, não será por isso do corpo? Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se fosse todo ouvido, onde estaria o olfato? Mas Deus colocou os membros no corpo, cada um  deles como quis. E se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Pois há  muitos membros, mas um só corpo. Ora vós sois o corpo de Cristo e, individualmente, membro desse corpo.